quinta-feira, 19 de julho de 2012

A INSERÇÃO FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO

Este estudo traz uma importante contribuição para o avanço do conhecimento sobre as formas de incorporação das mulheres ao mercado de trabalho. Tem como pano de fundo a constatação de que, em um mercado de trabalho segmentado segundo o sexo, a perda da capacidade de geração de postos de trabalho na indústria provoca maior impacto sobre os homens, que se concentram nesse setor, tradicional reduto masculino, ao mesmo tempo que a expansão do terciário, reduto feminino, favorece o emprego das mulheres. Considerando que, na década de 90, houve aumento de assalariadas no setor formal da economia, em contraposição a uma perda de emprego assalariado masculino, o texto propõe uma análise da evolução ocupacional de homens e mulheres no Estado de São Paulo, no período de 1989 a 2000, com base em dados da Rais. Embora se refiram apenas ao segmento formal do mercado de trabalho, esses dados permitem fazer uma análise pormenorizada da inserção dos trabalhadores nos diversos grupos ocupacionais, assim como em seus subgrupos ou "famílias ocupacionais", de acordo com as classificações oficiais da CBO/Classificação Brasileira de Ocupações, do Ministério do Trabalho e Emprego.




Estudos sobre o trabalho feminino1 têm chamado a atenção não só para a intensidade da incorporação das mulheres ao mercado de trabalho, mas também para as características de tal incorporação, que se dá em dois pólos bastante desiguais em relação à qualidade do emprego: de um lado, ocupações de má qualidade quanto a níveis de rendimento, formalização das relações e proteção no trabalho, como o emprego doméstico e o não-remunerado; de outro, as boas ocupações em relação a essas características, entre as quais estariam as profissões de nível superior – direito, medicina, arquitetura, para citar alguns exemplos –, nas quais as mulheres passaram a ingressar principalmente em decorrência da ampliação de sua escolaridade e acesso ao nível superior de ensino. Esses estudos sugerem que é no interior dos grupos ocupacionais, ou mesmo de famílias ocupacionais específicas, que estaria ocorrendo, desde a década de 80, um lento, porém intenso e consistente, processo de transformação da incorporação feminina ao mercado de trabalho. Este texto oferece novos elementos para comprovar essa hipótese e entender como se dá tal processo. Apresenta, para cada grupo e família ocupacional, informações sobre número de empregos gerados ou perdidos, na década considerada, segundo o sexo do trabalhador. É possível, dessa forma, acompanhar os movimentos da mão-de-obra masculina e feminina no período, no setor formal, e localizar os nichos nos quais persistem formas tradicionais de emprego segundo o sexo do trabalhador, assim como desvendar as novas tendências de inserção laboral das mulheres, precisamente no lugar em que elas ocorrem. Uma análise da escolaridade, em associação a esses movimentos ocupacionais, introduz maior refinamento ao estudo, cujos resultados mostram tendências similares àquelas encontradas, para todo o país, em estudo recente de nossa autoria sobre tema semelhante e com a mesma base de dados2.



Merecem ser destacadas, entre elas, as seguintes:



De maneira geral, não houve alterações marcantes na estrutura ocupacional feminina na última década, pois os movimentos do emprego formal entre as mulheres se associaram, em grande parte, a ocupações tradicionalmente femininas, como aquelas ligadas a serviços de limpeza, ocupações administrativas, magistério e enfermagem.

Mudanças significativas ocorreram em alguns grupos: no técnico-científico, pela ampliação da presença das mulheres em ocupações de nível superior (médicas, dentistas, advogadas, jornalistas e outras); nas ocupações do comércio, entre os vendedores e supervisores de vendas; no grupo dos gerentes (gerentes financeiras, comerciais e de publicidade) e dos diretores (diretoras de empresas de serviços comunitários e sociais).

Na década analisada houve aumento da escolaridade média da população brasileira, sobretudo a feminina, e maior seletividade na contratação, o que resultou em melhoria do perfil de instrução da população ocupada. Foram gerados 1,3 milhão de empregos para pessoas com pelo menos o ensino médio completo, em contraposição à diminuição de 1,9 milhão para os que não concluíram o ensino fundamental.

As mulheres ocuparam a maioria dos empregos gerados para pessoas com maior escolaridade; o segmento feminino respondeu por 71,6% das vagas para os mais escolarizados, o que está relacionado ao melhor desempenho das mulheres em ocupações de nível superior.

Tais achados mostram uma trajetória de inserção das mulheres em novos grupos ocupacionais, porém, como dizem os autores do texto em suas considerações finais, ainda falta um longo caminho a percorrer em direção à igualdade com os homens e à ocupação de outros espaços no mercado de trabalho.



Cristina Bruschini

Pesquisadora da Fundação Carlos Chagas